Imprensa Alternativa, segundo Micollis, é uma expressão cunhada por Alberto Dines, que atribui quatro significados: “o de algo que não está ligado em políticas dominantes, o de uma opção entre duas coisas reciprocamente excludentes, o de uma saída para uma situação difícil e do desejo das gerações dos anos 60 e 70 de protagonizar as transformações sociais que pregavam”.(apud BARROS, Patrícia Marcondes de. 2000).
O primeiro jornal independente que se enquadrou nessas características foi o Binômio, fundado em Belo Horizonte-MG, em 17 de Fevereiro de 1952. Muitos o apontam como “pai do Pasquim” e teve nomes ilustres em sua equipe, tais como: Ziraldo, Roberto Drummund e Fernando Gabeira. O jornal foi fundado por José Maria Rabelo e Euro Arantes, atacando essencialmente o governo JK no estado. Seu titulo original era “Binômio Sombra e Água Fresca”, uma paródia ao lema do governo “Binômio Energia e Transporte”, logo depois ficando só “Binômio”. Mas o jornal não se limitava apenas à política, ele criticava também grandes empresários e o Exército. O jornal durou doze anos, foi fechado após o golpe militar e o diretor viveu dezesseis anos no exílio.
Em 1961 surge outro jornal alternativo: Snob. De enfoque homossexual, foi fundado no Rio de Janeiro por Agildo Bezerra Guimarães. Era mimeografado e circulava entre amigos. “Era mais um colunismo social que um veículo de discussão de idéias”, segundo Marcus Antonio Assis Lima.
A Imprensa Homossexual foi muito importante para a Imprensa Alternativa durante o começo dos 60. Muitos outros títulos vieram depois, em diversos estados. Os mais importantes foram: Fatos e Fofocas (1963 – 67) – tinha uma edição única que rodava entre amigos e voltava a origem, Zéfiro (1967), Baby (1968) – sendo esses dois datilografados e fotocopiados. Todos eles eram bem superficiais e frívolos, o primeiro a se diferenciar, trazendo criticas e resenhas de teatro e cinema, fatos da comunidade gay de outros lugares e Bass Found da comunidade local foi o soteropolitano Little Darling. Fundado em 1970, seguiu com esse nome até 1978, mudando para Ello.
Foi, ainda nos anos 60, que surgiu a “Associação Brasileira de Imprensa Gay”, que durou 1962 a 64, dirigida por Agildo Guimarães e Anuar Farah, no Rio de Janeiro, extinta pelo governo militar.
O mais famoso e influente jornal homossexual foi o Lampião da Esquina (depois só “Lampião”). Editado por Aguinaldo Silva, Clovis Marques, Darcy Penteado, Jean Claude Bernadet, João Silvério Trevisan, Peter Fry, entre outros, foi fundado em 1978 e durou até 1981. Ele tratava o homossexualismo de maneira séria, sem chavões ou “plumas” em excesso, trazia artes, conselhos, criticas de cinema e teatro, inclusive fazia duras criticas ao governo e levantava a bandeira vermelha da esquerda.
O que começou “classudo”, terminou vulgar. Nas ultimas edições o jornal passou a publicar fotos eróticas, perdendo uma grande parcela de seus leitores, que podiam encontrar pornografia em publicações mais baratas e explicitas, como: Gato, Alone Gay, Young Pornogay, entre outras, todas de São Paulo.
Mas a semente plantada nas primeiras edições pelo Lampião, que tratava com vanguarda e de maneira séria o tema, germinou muitos anos depois, ainda que ele em si tenha durado pouco.
Logo após, a efervescência cultural e política represada pelo golpe militar de 64 encontra um canal de comunicação na Imprensa Alternativa, que duraria até o fim dos anos setenta. Esses pequenos jornais se esforçam para continuar exercendo seu papel, mas após o AI-5 a perseguição torna-se implacável, sufocando-os.
A grande mídia torna-se um veículo de informação conveniente ao governo, formando grandes oligopólios patrocinados pelo governo federal. O mainstream da mídia entra em um processo de apoio a Ditadura, mostrando os “benefícios decorrentes da administração militar”.
A Imprensa Alternativa também era conhecida nessa época com os nomes “Nanica”, derivado do tamanho adotado pelas publicações, inspiradas nos tablóides (atualmente esse termo é usado para partidos políticos menores) e “Underground”, um neologismo importado da Inglaterra.
Eram muitos os segmentos e as áreas de atuação da Nanica. Alguns jornais, como “Pif Paf”, “Opinião”, “Movimento” focavam temas políticos, já outros, como o “Pasquim” faziam o mesmo, só que usando sátiras. Recebiam também influências da contracultura Norte-americana e do new journalism inglês, tratando de questões comportamentais e sociais com um ponto de vista inédito por aqui até então.
Era um jornalismo corajoso de oposição à Grande Imprensa - que não proporcionava aos leitores um noticiário crítico ao regime imposto no País. Porém esses principais jornais foram duramente perseguidos pelo regime militar.
Pif Paf surgiu em 1964, por iniciativa de Millôr Fernandes, que acabara de sair da revista Cruzeiro. Millôr foi responsável por quase tudo no Pif Paf, inclusive procurar empréstimos nos bancos para financiar o projeto. Contava com Ziraldo, Fortuna, entre outros amigos. Considerado por muitos como pioneiro, foi berço para muitos outros do gênero.
O Opinião (Rio de Janeiro, 1972-77) era distribuído por todo o Brasil e alguns países da América Latina. Tinha como diretor Fernando Gasparian e como editor Raimundo Rodrigues Pereira. Tratava de assuntos universais para a época: a guerra-fria, que dividia e polarizava o mundo; a guerra do Vietnã e também a edição brasileira do Le Monde Diplomatique.
O Movimento foi fundado em Abril de 1975, por um grupo de dissidentes do Opinião, liderados por Raimundo Rodrigues Pereira e terminou em novembro de 1981. Era semanal e seu foco maior era a redemocratização do Estado Brasileiro. Uma peculiaridade do jornal era o recurso utilizado: Charges. Pouco popular até então, a charge foi fartamente utilizada no Movimento, especialmente na sessão “corta essa”. Foi até novembro de 1981.
No final de 1968, de uma reunião do cartunista e jornalistas Jaguar, Tarso de Castro e Sergio Cabral, surge o Pasquim, principal jornal de oposição à Ditadura Militar. Eles queriam preencher a lacuna deixada pelo A Carapuça, de Sergio Porto, que acabara de falecer. Por sugestão de Jaguar, eles adotaram o nome inspirado em Pasquino, um senhor italiano que escrevia fofocas para serem lidas em praça pública.
Ele começou de maneira ousada, com uma tiragem inicial de 20 mil exemplares, um exagero em se tratando de IA, e chegou a 200 mil nos anos 70. Falava de sexo, drogas, política, feminismo e tinha no seu time nomes como: Sergio Cabral, Jaguar, Ziraldo, Carlos Leonam, Paulo Francis e amigos como Vinicius de Moraes, Leila Dinis, Danuza Leão e Tom Jobim, além do Cartunista Henfil, com seus “Fradinho” (do famigerado top-top) e “Graúna”.
Em novembro de 1970, a redação inteira do Pasquim foi presa, depois que o jornal publicou uma sátira do célebre quadro de Dom Pedro às margens do Ipiranga (de autoria de Pedro Américo). Os militares esperavam que o semanário saísse de circulação e seus leitores perdessem o interesse, mas durante todo o período em que a equipe esteve encarcerada - até fevereiro de 1971 - o Pasquim foi mantido sob a editoria de Millôr Fernandes (que escapara à prisão), com colaborações de Chico Buarque, Antônio Callado, Rubem Fonseca, Odete Lara, Gláuber Rocha e diversos intelectuais cariocas.
Mesmo debaixo de fogo cerrado, que incluíram atentados a bomba contra bancas que vendiam jornais alternativos, o Pasquim, teve uma vida longa: a equipe seguiu até aproximadamente a metade dos anos 70. Depois Jaguar tocou o projeto praticamente sozinho, passando pela Abertura Política e as Diretas em 1985, a Constituição de 1988, acabando em 1991.
Com o “aquecimento e princípio de derretimento” da Guerra Fria, fim da guerra do Vietnã, anistia política aos exilados em 1 de novembro de 1979 e principalmente, com a absorção das cabeças pensantes do movimento Alternativo por parte das grandes empresas de comunicação e a alienação da população, a Imprensa Alternativa foi perdendo sua razão de ser e poucas pessoas se mostravam interessadas nesses assuntos.
Outro fator que contribui para enfraquecer a Imprensa Underground, foram as coberturas e divulgação das lutas dos Movimentos Operários e Sindicalistas por parte do mainstream jornalístico, o que dava uma sensação de liberdade ao cidadão, que reforça sua confiança nos principais jornais e nos meios de comunicação da época (radio e Tv).
*trabalho apresentado por mim em uma aula de História da comunicação. Participaram: Lilian Senna, Paracelso Sant'Anna, Marcelo Guimarães e Gabriel Campista.
Um comentário:
conhecia teu blog nao rapa
manero!
esse trabalho ficou mto bom
até segunda!
Postar um comentário