quinta-feira, 26 de abril de 2007
Linda sim, Maravilhosa não
Há uma canção que diz “agora na terra da garoa só dá temporal”, essa canção faz uma analogia sobre os problemas que assolam a capital paulista. Poderíamos fazer o mesmo com a canção de Gil, que diz que “o Rio de Janeiro continua lindo”, porém ele não é mais uma Cidade Maravilhosa.
O município, que foi uma cidade-estado até 1975, era capital cultural do Brasil, além de economia de destaque em relação às outras cidades do país. Para se ter uma idéia, desde Coelho Neto, que a chamou “Cidade Maravilhosa” no jornal “A Notícia” em 1908, até a marchinha de André Filho, destaque do carnaval 1935, o Teatro Municipal apresentou mais de 700 peças de ópera (setenta e três só em 1920...). Todavia não é necessário voltar tanto, em 1970 o público de concertos de música erudita superava, em muito, o de São Paulo, mesmo com menos teatros que sua vizinha esnobe.
Não era só de cultura e glamour que vivia a cidade, que já enfrentava problemas de distribuição de renda e favelização no princípio do séc. XX, mas eram fatos isolados, e as favelas se situavam nas encostas dos morros, em pequena quantidade.
Talvez por sua herança de cidade imperial e o status de ter sido a única capital européia fora da Europa, o funcionalismo público ou a carreira militar é a meta da maioria da população, que vê com maus olhos carreiras alternativas. Pode ser que isso seja a causa de os cursos de Direito e Medicina serem os mais disputados nas universidades, contra Jornalismo e Publicidade, recordistas em São Paulo.
Esse desejo por carreira pública atrasa a cidade de forma cíclica: não há emprego porque não há iniciativa privada e não há iniciativa privada porque não há mão-de-obra e quando há mão-de-obra, não tem como transportar, já que os Aeroportos, os Portos e as Rodovias não são satisfatórios. Basta ver a maior estatal do País, Petrobras, que com sede aqui, busca técnicos e engenheiros em outros lugares.
Um outro problema cíclico da sociedade carioca é a marginalização dos podres, que acuados em favelas se vêm forçados a conviver com traficantes de drogas e armas, sendo vítima dos criminosos e da policia, que não os protege, pelo contrário, os trata como bandidos, invadindo residências sob o pretexto de procurar armas e drogas.
Quando descem para o asfalto, são discriminados pelo resto da população, que na maioria pertence à classe média, que está esmagada, mas continua com pretensões européias. Essa classe média, com muita dificuldade financeira, trata os humildes com símbolos escravagistas, como o elevador de serviço, a roupa branca, os “dois passos atrás do patrão”, além das frases “não é preto, é moreninho”, “preto de alma branca” e a clássica pergunta: “Você é tão boa Maria, como você consegue viver no meio dos favelados?” – é uma pena ela não poder responder, porque se o fizer perde o emprego, mas uma resposta razoável é explicar que com o salário que a patroa paga, mal dá para comprar o leite das crianças.
Essa falta de cultura, de emprego e discriminação gera os problemas de segurança, que atualmente é a principal preocupação devido ao PAN 2007. O Governo do Estado junto com a União estão treinando homens de outros estados e mobilizaram a Guarda Nacional para policiar a cidade, mas e quando acabar os jogos? Será retirado esse contingente e o povo jogado a sua própria sorte?
Pouco provável que com todos esses problemas o Rio de Janeiro volte a ser a capital cultural do país, mesmo com toda a beleza natural.Uma campanha intensa de escolarização, urbanização, desenvolvimento, assistência social, estímulos fiscais e diversas outras, deve ser feita imediatamente, para que além de lindo, seja de novo a “Cidade Maravilhosa”.
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